A primeira vez que conheci a Minne foi na Universidade, ela do Jornalismo, eu do Serviço Social, e essa foi só uma das coincidências que nos uniu. Depois descobri que conhecíamos pessoas em comum, depois fomos para diálogos audiovisuais em comum, e foi só nesse último acontecimento que vi mais das criações que ela produziu.
A Minne tem um dos olhares mais sensíveis que a imagem me mostrou. Os universos por ela criados, as cores, a poesia que ela deposita em cada clique possui um significado incrível e é impossível não sentir um abraço quentinho com as séries que ela partilha por meio da imagem e do audiovisual. Isso me faz acreditar demais na força que a arte e histórias têm. Quando pensei em retornar com prosas aqui no blog, a Minne estava em meus pensamentos. De várias maneiras eu espero que vocês se sintam abraçados por tudo o que ela citou e criou também.
Ao
mesmo tempo que vejo a sua relação com a fotografia, percebo que a literatura
também significa muito pra você. Ela te ajudou a construir o seu olhar na
imagem? Se sim, qual obra foi essencial para você nesse sentido?
a literatura guia muito o meu olhar, de diversas formas. é, sem dúvidas, uma das
minhas maiores influências, a que me mantem nessa constância de criar imagens,
mesmo que somente na cabeça, e que me coloca sempre num percurso de buscar e enxergar
narrativas em tudo quanto é canto. acredito
que uma das obras que mais me marcaram nesse sentido foi a de Saramago, Ensaio
Sobre a Cegueira. desde que a li, e que me deparei com aquela frase (Se
podes olhar, vê. Se podes ver, repara.), tenho me esforçado pra manter esse meu
olhar mais atento, mais presente. é um lembrete diário que eu trago comigo.
do
ponto de vista político, O Mito da Beleza, de Naomi Wolf, foi uma das
que mais me fizeram refletir sobre a retratação da mulher, me abrindo os olhos
para muitas questões no assunto. da
perspectiva visual mesmo, não consigo precisar uma que tenha sido decisiva, mas
me vieram algumas marcantes em mente agora. uma delas eu venho lendo: o Da
Poesia, da Hilda Hilst. as palavras vão tomando forma de um jeito que é
muito lindo e me inspira demais.
A
Desumanização, de Valter Hugo Mãe, é outra. lembro que li
esse livro de uma forma muito lúcida visualmente. a narrativa do Mãe é muito
poética e auxilia nisso. conseguia enxergar a fotografia do livro de uma
maneira bem clara e as imagens que eu via eram muito bonitas, guardo até hoje
na cabeça.
outro que
também lembro de ter me impulsionado mais pro lado imagético da coisa foi Asterios
Polyp, uma HQ do David Mazzucchelli. na época, fiquei apaixonada pela forma
dessa obra: as cores, os traços, todos os elementos carregando um simbolismo
muito forte (e de uma maneira que até então eu não tinha visto em nenhuma
outra) pra dentro da história.
Minne integra o coletivo alagoano de mulheres da imagem, o Punho (leia o manifesto do Punho clicando aqui) e é co-diretora do documentário Sangue-Mulher ao lado de Mik Moreira e Janderson Felipe. Conheci a produção em um evento muito especial do Serviço Social do Comércio, o SESC, aqui em Maceió. No dia em que eu assisti a obra lembro de ficar emotiva, principalmente com a fotografia em planos detalhados que contaram as consequências da violência sofrida por mulheres alagoanas.
Mirar e discutir a obra me fez questionar se o envolvimento com a elaboração do filme cooperou para consolidar os traços de Minne na imagem e ela respondeu assim:
"todo o processo, desde a produção até a exibição do curta, contribuiu de
alguma forma pra construção do meu olhar na fotografia (e na vida), que eu penso
que esteja sempre nesse ciclo de reconfiguração. foi uma experiência muito
única e que colocou de forma ainda mais incisiva os debates em torno das
questões de gênero na minha vida. sou muito grata por ter feito parte e pelas
tantas trocas que vieram com e a partir dela".
Um texto escrito por Tatiana Magalhães compartilhado na janela do audiovisual alagoano, o Alagoar, traz a crítica da produção mencionada. recomendo demais a leitura.
eu hoje sinto de forma mais consciente que a fotografia ultimamente tem sido muito um ponto de encontro comigo mesma
É notório o quanto você poetiza os seus projetos por gestos, sombras e principalmente
cores na fotografia. O que você sente ao significar sentimentos através de retratos?
eu hoje sinto de forma mais
consciente que a fotografia ultimamente tem sido muito um ponto de encontro
comigo mesma, uma forma de me manter presente, coisa que eu tento buscar e que,
pela correria dos dias, tem sido difícil de alcançar nos outros aspectos da
vida. pela arte, e principalmente pelo autorretrato, eu tenho conseguido fincar
mais os meus pés na realidade, me perceber e manter mente e olhar atentos no
meio de tanto delírio, de tanta informação. chega a ser um pouco contraditório,
mas é mais ou menos como tem funcionado pra mim e eu venho me apegando a isso. acredito que, de certa forma, é o que acabo imprimindo também na imagem. nem
sempre esse processo se dá de maneira precisa e clara pra mim, mas, ao final de
tudo, é reconfortante perceber a influência desse ciclo e os artifícios que me
ajudam a expressá-lo.
Minne cita que a sua inspiração vem muito das coisas que estão ao seu redor. isso inclui a natureza e a casa de sua avó. "o toque de dona Alice sobre as coisas, as suas cores, o cinema, a literatura e a dança, principalmente", completa.
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Minne Santos é fotógrafa e graduada em Jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Foi co-diretora do curta-metragem Sangue-Mulher, que venceu o prêmio Olhar Crítico na Mostra Sururu de Cinema Alagoano (2016). É membro do coletivo alagoano de mulheres da imagem, o Punho, e desenvolve, em paralelo, um trabalho autoral voltado principalmente para o autorretrato. Nele, evoca suas relações com a memória, o corpo, o espaço, o tempo, com a própria imagem e com o que mais atravessar ou for caminho.
que imagens lindas e sensíveis. amei o trabalho da minne e amei que voltou com as entrevistas ♥
ResponderExcluirfeliz que gostou de tudo, amiga! e sim, o trabalho dela é muito sensível... sou apaixonada.
Excluirobrigada pelo carinho, viu? ♡
Que sensibilidade! <3
ResponderExcluirmuita! :_)
ExcluirQue trabalho bonito e sensível! Adoro conhecer os processos criativos e as referências dos artistas. Adorei a entrevista!
ResponderExcluiré tudo tão especial, não é? fico contente que tenha gostado dessa prosa <3
Excluiro trabalho da Minne é incrível!
ResponderExcluirdemais! <3
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